Tendo como base cenas isoladas de quatro peças, o objetivo da encenação é retratar o que há de mais peculiar na obra de Qorpo Santo: o nonsense. Para tanto, acreditamos que a intervenção – a qual se utiliza do contato direto com o público – seja a melhor opção para se traduzir a modernidade, ainda hoje presente na obra do autor em questão.
Partindo desse pressuposto épico, o contato direto com o público se dá dentro do contexto de cada história. Em A separação de dois esposos – a primeira obra dramatúrgica brasileira que retrata o homossexualismo –, os dois empregados, Tatu e Tamanduá, aludindo à subserviência e ao desejo de se devorarem sexualmente, servem petiscos aos expectadores. Os amantes de Eu sou vida; eu não sou morte ao refletirem sobre a bigamia ou monogamia, distribuem preservativos enquanto discutem a relação. Em Mateus e Mateusa, a criada que cuida de dois velhos que se mutilam o tempo todo, dá ao expectador curativos que podem ser aplicados nas personagens ou neles mesmos durante a cena. Costuram essas três cenas, um prólogo e um epílogo extraído de Hoje sou um; e amanhã sou outro em que Qorpo Santo, prevendo a sua engenhosidade teatral, fala dele mesmo.
A investigação prima pelo discurso épico, porém o surrealismo, traço predominante na obra de Qorpo Santo, é majoritariamente explorado.
Privilegiando o texto e o trabalho do ator, a encenação se vale de recursos absolutamente necessários à situação de cada cena. Nesse sentido, são investigadas imagens suscitadas pelos diálogos e pelas situações, provocando uma espécie de dilatação da ação.
Não há cenografia, uma vez que trabalhamos com a explosão do espaço em função das várias ambientações que as cenas suscitam. Os figurinos, em tamanhos e formas superlativas suprem a ausência cenográfica e, conseqüentemente, dialogam com a estética surrealista. Substituem ainda a ausência cenográfica os adereços utilizados para as realizações imagéticas.
Os atores, vestidos de roupa neutra no prólogo e epílogo – outro procedimento épico – se revezam para representar todas as personagens. As trocas de roupas para a representação das personagens se dão à vista do público. Outro elemento importante é a utilização das rubricas – outra característica valiosa na obra de Qorpo Santo – como instrumento de diálogo ou de narrativa da encenação.
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